quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sobre o amor

O amor é uma reinvenção diária. E hoje eu sei que ele só acontece uma vez na vida de cada individuo. Quando amei, me coloquei aos pés da minha própria cruz, lavei a alma de altruísmo e favor, me vi escrava dos anseios egoístas e fugazes de doar-me por inteira. Nunca o outro pede, a doação é graça, favor imerecido. Entrega-se aquele que encontrou o amor. Despe-se de todo o benefício próprio, de todo o senso crítico em relação à vida. O amor nos recria e nos purifica. Nos faz santos e idólatras, nos veste de honra e fidelidade. Mas quando amei, soube o que era a perda para o tempo. Me vi estática para atravessar a fronteira dos países que serviram de lua de mel e agora causam a separação dos corpos. Amando me vi paralisada com a perda, fortificada com a solidão. Somos inertes quando descobrimos o amor. Desaprendemos a viver. Desaprendemos a chamar pessoas por nomes. O amor nos transforma em carinho e nos dignifica. O amor nos causa dor. Quando me vi amando, precisei entender a hora de partir, porque o amor nos faz entender. O amor nos constrange ao sofrimento alheio, nos ensina a largar, deixar partir. Somente quem amou, sabe a hora certa de deixar o vento levar. O amor traz a cura, ensina a viver. É louvado aquele que aprende a amar-se com a dor, aprende a ensinar-se com sua própria dor. O amor é o sentimento mais palpável que já conheci. Veio acompanhado de nome, sobrenome e todas as características de um homem bom. O amor é o sentimento mais contraditório que já descrevi. O amor abre feridas e as cicatriza também.